Depois de muito dormir, foi a hora de abrir os olhos e lembrar que eu ainda tinha uns 59 quilômetros para enfrentar. A questão que martelava a minha cabeça era: subir caminhando ou de cavalo? Subir caminhando ou de cavalo?
O que me preocupava não era só a subida em si, mas outros dois fatores: a altitude que aumentaria de 3900 para 4600 e ainda as seis horas de caminhada de descida para chegar no segundo acampamento.
O segundo dia contemplou o trecho que vai de Soraypampa até Chaulay. Uma caminhada de quase oito horas, três de subida e seis de descida. |
Meu corpo me dizia, não faça isso pelo amor de Deus. Suba de cavalo (tinha ainda o quesito valor, o equivalente a 100 reais por duas horas de cavalo). E meu coração dizia, você consegue. Vai a pé! Eu não queria sentir que estava trapaceando, mas também não queria ter que voltar por ter passado dos limites.
A glicemia acordou dentro do esperado: 150. Eu optei pelo valor mais alto porque as atividades começariam às 6h e eu ainda estava muito enjoada e comendo pouco.
Depois de conversar com o guia, decidi pelo cavalo. Segundo ele, eu conseguiria subir, mas chegaria lá no alto muito debilitada e sofreria para descer, quando não há opções de cavalo nem nada. Ou seja, eu teria que descer rolando. Então lá fui eu, o cavalo e a Carla, a outra brasileira que também tinha sofrido no primeiro dia.
O cavalinho suicida e o meu medo de penhascos, que eu nem sabia que tinha. |
Confesso que fiquei com muito medo em cima do cavalo. Ele pega uns penhascos e vai na pontinha. Não consegui nem tirar foto de tão agarrada que estava no bicho. Dias depois soube que já teve acidente do cavalo cair lá de cima com uma pessoa em cima. Juro que não pesquisei para saber se era verdade! Mas as vistas eram lindas.
Depois de duas horas, no cai não cai, descemos do cavalo quando faltavam uns quinhentos metros para chegar no topo. Eu me sentia muito bem, exceto apenas pela chuva e pela neve. Sim, nevou!!! Era lindo, mas muito, muito frio! Andei os 500 metros e cheguei lá:
Frio e muita chuva e a decisão de pular a medição da glicemia. |
A temperatura era de mais ou menos cinco graus negativos. Eu queria medir a glicemia antes de iniciar a descida, mas meus dedos estavam congelando. Como eu me sentia bem, iniciei a descida com o glicossímetro a tira colo e logo depois de comer duas barrinhas e tomar um suquinho.
Descer pra mim foi bem tranquilo. Eu ainda sentia falta de ar e enjoo, mas conforme a altitude diminuía eu me sentia bem melhor.
Mais lindas paisagens! |
Chegamos na barraca do almoço menos de meia hora depois da turma que manja do paranauê. O que me deixou bem feliz, depois do vexame de atrasar horas no primeiro dia. E o mais gostoso, eu me sentia disposta.
Depois do almoço mais quatro horas de caminhada rumo ao acampamento. Estava chovendo, mas a altitude já tinha diminuído para 4000 metros, eu estava mais aclimatada e cheia de chá de coca na cabeça (não dá barato, juro).
Conclusão: desatinei a andar. Passei meu primo e cheguei com os primeiros no acampamento, o que gerou algazarra e aplausos dos que estavam comigo! Felicidades mil.
Visão de longe do acampamento! |
Nesse momento percebi o quanto foi importante ter respeitado o meu corpo nas primeiras duas horas, sem isso eu não teria me saído tão bem nas horas seguintes! E ter conseguido completar o segundo dia me deu mais esperanças de conseguir seguir com tudo até o final.
A glicemia quando cheguei no acampamento estava 180, achei muito bom e só corrigi com humalog. O corpo doía muito, principalmente o joelho esquerdo que dava umas fisgadas. Culpa da descida com pedras e declives bem puxados. Tomei um antiinflamatório que eu já tenho o costume de tomar e me enrolei no Salompas. Mas sabia que seria só o começo das dores.
Mas na boa, qualquer coisa menos enjoo e vômitos. O resto, ali naquele momento de vitória, eu sabia que aguentaria!
Leia os outros posts da série:
Dia 1: Superação
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